Texto By Rozilda Euzebio Costa
Três Teresas
nasceram no mesmo dia; Teresa Cristina, Teresa Edviges, e Teresa Maria. Embora
com histórias de vida bastante distintas, as três tiveram desfechos muito diferentes
uma da outra. E apesar de não terem nenhuma ligação familiar entre as três Teresas,
ambas tinham algo muito em comum; o nome Teresa!
Teresa Cristina era
filha de uma família de colonos, e antes de completar seus oito anos de idade,
aflorou-lhe o desejo de ser uma freira, uma religiosa dedicada às coisas do
Senhor.
Era tão tímida
Teresa Cristina que, quando chegavam visitas em casa, ela corria para o seu quarto
para se esconder. Quando tinha que cumprimentar alguém a pedido dos pais, ela
nem mesmo levantava os olhos na direção do rosto das pessoas. Sentia estremecer
seu pobre coraçãozinho de tanta timidez.
O que tinha de
timidez em Teresa Cristina, também tinha de beleza. Teresa Cristina era muito,
mas muito bela mesmo. Tinha uma pele morena cor de jambo. Cabelos encaracolados
que despencavam ombro abaixo na altura de sua cintura. Jacobina sua mãe,
cuidava muito bem de seus cabelos, e sentia um orgulho enorme de ouvir os
elogios de suas amigas quanto à beleza de sua filha. Ela mesma achava aqueles
caracóis tão lindos! Cuidava para que os cachos castanhos, escuros e brilhantes
de sua filha, ficassem cada vez mais belos.
Certa vez Teresa
Cristina disse para sua mãe:
- Mamãe, eu acho
lindo como as freiras se vestem. Um dia também vou me vestir assim, como elas.
Com aqueles vestidos longos, e aqueles véus na cabeça... Eu quero ser uma freira
mamãe! Serei a freira mais feliz deste mundo. Vou trabalhar somente para Deus,
auxiliando as pessoas carentes.
Jacobina até que
gostava de ver Teresa Cristina com tais desejos, e lhe dava força, lhe
incentivava. Imaginava que, servindo ao Senhor, sua filha quando morresse iria
direto para o céu. Esse era o pensamento da mãe de Teresa Cristina.
***
Já Teresa Edviges, era
sabido por todos em sua casa que sua mãe, Miguelita, era uma mulher bastante
devota de todos os santos. Na verdade, as paredes de sua casa eram uma
verdadeira alegoria, toda decorada com imagem de tudo quanto é santo existente
nas esferas do céu.
Nas paredes da casa
de Miguelita Tinha Santo Antônio, São Francisco, Santa Teresinha, Santa Clara,
São Gerônimo, Santo Agostinho, São Sebastião, São Gonçalo, São Lourenço, Santa
Luzia, São José, Santa Edviges, e mais uma dezena deles. Uma comunidade inteira
de Santos viviam nas paredes da casa de Miguelita.
A Mãe de Teresa
Edviges logo que alcançou sua adolescência, descobriu a comunidade dos santos
celestes. Daí em diante, não os deixou mais em paz. Para tudo, Miguelita
incomodava os santos.
Quando estudava,
todo ano Miguelita fazia promessas para um santo, para que este pudesse ajuda-la
a tirar notas boas e não ficar reprovada de ano e voltar a repetir a mesma
série.
Depois que cresceu e ficou moça, Miguelita começou a incomodar ainda mais os santos. Desta
vez pedia-lhes ajuda para que lhe ajudasse a encontrar um namorado rico para
casar-se com ela. Mas o tempo foi passando e nada de encontrar esse marido
rico. Quando percebeu que os anos estavam lhe devorando, recorreu aos santos
mudando as características do futuro marido; desta vez, eles podiam lhe
conceder um marido pobre mesmo, e não precisava ser bonito, desde que a amasse,
já estaria bom demais. Ela foi atendida. Casou-se pouco tempo depois de ter alterado
o seu pedido. Na hora de agradecer aos santos, já não sabia para qual deles
agradecer, porque havia feito o mesmo pedido para tantos santos! Resolveu então
fazer um agradecimento coletivo. Orou e acendeu velas para todos os santos.
Assim, pensou; todos ficariam felizes e satisfeitos.
Pouco tempo depois
de Miguelita ter se casado, esta pensou em ter logo todos os seus filhos, pois
pensava que quanto antes eles nascessem melhor para ela, porque ainda estaria
jovem e teria muito tempo para dedicar aos cuidados de seu corpo, para não
ficar uma mulher desgastada. De corpo feio e desfeito. Ainda teria tempo de
recuperar a sua forma física porque estaria ainda uma mulher jovem.
No entanto, muitos
anos se passaram após o casamento de Miguelita. Quase dez anos. E ela nada de
engravidar! Foi a partir de então que Miguelita se apegou ainda mais com os santos.
Era um clamor infindável de Miguelita! Ela peregrinava de Santo em Santo, dia
após dia, uma perturbação aquilo! Mas perturbação não para ela, mas para os
Santos que tinham que ficar ouvindo suas infindáveis ladainhas petitórias todos
os dias, sem folga!
Porém, durante uma
estação de verão, Miguelita teve seu pedido atendido. Mas na hora de pagar a
promessa do pedido que ela fez; eis aí outro impasse! Como havia feito o pedido
para engravidar para uma comunidade inteira de santos, ela não sabia ao certo
qual deles lhe havia atendido tal pedido! Pagou a promessa, e agradeceu com
alegria a todos os santos novamente, Foi quase um dia inteiro de muita oração e
agradecimento. A casa ficou toda iluminada de luzes de velas. E se quando a
criança nascesse fosse uma menina, daria a ela os nomes de Santa Teresinha e
Santa Edviges. A filha se chamaria; Teresa Edviges!
Nove meses depois,
nasceu Teresa Edviges! E por incrível que pareça Teresa Edviges já nasceu muito
sapeca. Nossa! Como era vaidosa! Exibida ao extremo.
Por levar o nome de
duas Santas, Teresa Edviges não deveria ser assim, tão vaidosa e desejosa das
coisas mundanas. As pessoas estranhavam o comportamento de Teresa Edviges, que,
mesmo tão novinha, já tinha tanta vaidade.
Esperava-se que Teresa
Edviges se dedicasse a uma vida religiosa. Mas as coisas não eram bem assim. Ela
dizia que, ao crescer, seria uma atriz famosa! Uma atriz de cinema! Queria ver
sua imagem nas telas de cinema do mundo inteiro! Desejava ser seguida por uma
multidão de fãs. E por sua cabecinha de vento, nem se passava a hipótese de
viver uma vida religiosa.
***
Já, Teresa Maria,
esta, logo que nasceu fora abandonada pela mãe biológica. Uma família a adotou
como filha. Sua mãe adotiva, Marinalva, quando a recebeu nos braços, decidiu chama-la
de Teresa Maria. Chamaria Teresa, porque era o nome de sua mãe, aquela que a
partir de então seria a avó de Teresa Maria. E teria Maria como segundo nome, por
ter sido abandonada pela mãe biológica de uma forma muito insensível, largada
numa madrugada fria, e enrolada em flanelas vermelhas sobre a calçada de um
edifício. O edifício era o que Marinalva vivia. Teresa Maria só foi vista
naquela calçada ao raiar do dia, quando Marinalva saia para ir comprar pães e
leite para o café da manhã. Nem mesmo o vigia havia notado aquele pequeno anjo
enrolado e dormindo no cantinho da calçada, na entrada do edifício, mas
Marinalva logo que pôs seus olhos sobre aquele pacotinho vermelho, correu a ver
o que era. Ao chegar perto, a menina se mexeu e deu um pequeno gemido. Marinalva
recolheu depressa a pequena, levando-a para dentro de casa e dando logo a ela
os primeiros cuidados.
Enquanto a
alimentava com uma mamadeira de leite, notou que ela olhava fixamente em seu
rosto, com um olhar puro e sereno, e Marinalva não teve dúvidas de que aquela
pequena criatura fora amparada naquela madrugada fria, pelos braços quentes de
Nossa Senhora, a virgem Maria Santíssima. Decidiu também homenagear Maria, a
mãe do menino Jesus, e lhe deu o nome de Teresa Maria.
Teresa Maria era
uma menina linda, de olhos grandes e negros. Seus olhos eram tão brilhantes que
pareciam duas jabuticabas grandes e maduras. Seus cabelos eram também negros e
lisos. Suas bochechas eram rosadas e aveludadas, como dois pêssegos maduros. Ela
possuía uma maturidade e uma inteligência incrível, fora do comum. Desde
pequena sempre fora muito delicada em suas atitudes. Era muito obediente e
sensata em qualquer coisa que fosse fazer. A única fraqueza de Teresa Maria era
a sua queda por doces e massas. Sua mãe sofria na tentativa de evitar que a
filha engordasse, mas não teve jeito. Teresa Maria foi acumulando peso ao longo
dos anos, até ultrapassar todos os limites.
Quando chegou o
tempo de ir para a Faculdade, Teresa Maria já com dezenove anos, já estava
muito acima de seu peso e não conseguia mais lidar com as críticas da própria
família em relação a isso. Juntou a questão da cobrança familiar para que
emagrecesse, e o bullyng que ela sofria de seus colegas de aula na Faculdade, e
as coisas só foi piorando, dia após dia.
Marinalva sofria ao
extremo por ver a filha naquele estado triste de vida, mas ela não conseguia
fazer muita coisa por Teresa Maria. Marinalva tinha outros filhos, e controlar
a cobrança deles em cima de Teresa Maria era muito difícil. Eles não compreendiam
Teresa Maria, não compreendiam que a sua situação não era somente física, mas também
psicológica. Não dependia somente de Marinalva, a cura da filha. Parecia que,
aquela menininha encontrada na calçada de seu edifício, há dezenove anos, já não
queria mais lutar para viver.
Não suportando mais
a violência verbal sobre as suas condições físicas, Teresa Maria caiu em
profunda depressão. Em menos de dois anos de convivência com a depressão,
isolou-se de todos, ao ponto de não desejar nem mais a presença da mãe Marinalva.
Não queria ver ninguém, não queria mais ouvir conselhos, pois estes quando
alguém lhes trazia aos ouvidos, eram como facas afiadas a lhe ferir a alma.
Junto com a depressão vivenciada por ela continuamente, veio também outros
problemas de saúde, como problemas cardíacos e pulmonares.
Marinalva, embora a
amasse tanto Teresa Maria, ao ponto de desejar dar a própria vida para que sua
saúde fosse restaurada, não conseguiu ajuda-la a vencer a luta contra a
depressão. Teresa Maria morreu aos vinte e um anos.
***
Quanto à Teresa
Cristina, aquela que desejava se tornar uma freira, esta mal completou quinze
anos, já andava de namoricos pelos pátios da escola. Que coisa hein! Como as
coisas mudam! Tudo indicava que ela seria a freira mais fiel de sua comunidade.
Mas não, as coisas desandaram e tomaram um rumo tão diferente que, Teresa
Cristina só dava trabalho para seus pais.
Toda semana chegavam
reclamações vindas da escola de Teresa Cristina. E toda semana, seu pai botava
para correr de sua porta alguns candidatos a namorado de Teresa Cristina. Era
uma coisa infernal aquela situação.
Teresa Cristina
ficou tão bela que deixava os rapazes loucos por ela. Os pais de Teresa
Cristina acharam por bem casá-la o mais depressa possível, antes que algo pior
acontecesse. Assim, quando surgiu um candidato aplausível tanto para a
família, quanto para Teresa Cristina, logo seus pais cuidaram de fechar os
acordos necessários para o casamento. Teresa Cristina casou-se aos dezoito anos
com um jovem soldado, e teve cinco filhos muito belos. Ela formou uma linda
família e teve uma vida, de certa forma, feliz.
***
Mas, quanto à
Teresa Edviges, aquela que levava o nome de duas santas, às quais sua mãe Miguelita
era devota, aquela que desejava ser uma atriz famosa, tomou outros caminhos
muito diferentes. As coisas não saíram bem do jeito que ela sonhava.
Antes mesmo de
completar dez anos, os pais de Teresa Edviges se separaram. E mesmo sendo filha
única, sua mãe a colocou para trabalhar como “Babá” em casas de famílias. Daí
em diante, ela passou a viver e trabalhar em casas de famílias. Inicialmente
começou trabalhando e morando nessas casas de família em troca de estudos, em
troca de roupas e de calçados. Depois, que cresceu mais, passou a ganhar um
salário por seu trabalho.
Teresa Edviges foi vivendo
nessa vida, entre os sonhos de ser atriz, e uma vida muito dura de trabalho, cheia
de batalhas incontáveis.
Tempos depois deixou
a função de Babá para trabalhar como diarista, na limpeza das residências de
família. Dizia ela que ganhava mais, e ela mesma controlava os dias que podia
trabalhar.
Certa vez, já com
dezessete anos completos, e ainda trabalhando como diarista, Teresa Edviges foi
a um passeio juntamente com um grupo turístico. O grupo visitaria algumas
cidades, e entre elas, uma cidade onde também iriam conhecer um Santuário de
Santa Edviges.
Tão logo Teresa
Edviges adentrou o Santuário, seu coração disparou e começou a bater muito
forte. Ela sentiu uma emoção muito grande. Sem compreender o que estava
acontecendo, ela começou a chorar. Não era um choro de tristeza, mas um choro
de alegria. Era como se ela tivesse acabado de encontrar algo que procurava ha
uma vida inteira! Parecia que naquele momento, naquele lugar, ela acabava de
conhecer a sua verdadeira vocação. Era isso! Teresa Edviges teve certeza plena
em seu coração que nascera para ser uma religiosa, e que seu nome, não lhe
havia sido dado por acaso. Era seu destino ser uma religiosa. Não desejava mais
ser uma atriz de cinema. Não deseja mais ser nenhuma outra coisa no mundo. Só
queria ser uma servidora de Cristo na Terra. Queria ser uma freira. Nasceu para
ser uma religiosa, para viver uma vida dedicada às coisas do Senhor.
A partir daquele
dia, Teresa Edviges entrou para a vida religiosa, e nunca mais saiu dela. Suas
ações levaram Jesus a incontáveis pessoas. Teresa Edviges viveu toda a sua vida
como uma freira. Foi fiel a todos os ensinamentos de Jesus, até o fim de seus
dias. Teresa Edviges morreu com noventa anos de idade, depois de já ter deixado
um legado de caridade por onde passou.
E assim se termina
esta história. A história das três Teresas! Teresa Cristina, Teresa Edviges, e
Teresa Maria.
Fim.
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